Proinvest: Sergipe precisa investir em quê?
O Governo de Sergipe vai nos endividar cada vez mais. Quer, a todo
custo, o empréstimo de R$ 727 milhões do Proinvest. Quem vai pagar a
conta? O público. Nós todos. Você. Esse dinheiro será torrado com
empreiteiras e obras duvidosas (até agora sem quaisquer projetos), mas
sem dúvida, de grande apelo eleitoral em seu favor de seus aliados de
ocasião.
O pagamento dos juros desse empréstimo e dos tantos outros que este
governo e os passados fizeram arrebentam mensalmente o nosso cofre, do
público. São milhões de reais que deixam de ir para educação, saúde,
habitação, segurança, meio ambiente, funcionalismo, etc. A dívida chega
perto dos R$ 3 bilhões e o comprometimento das finanças ultrapassa os
próximos 20 anos.
Sem afetação política, responda: o Estado de Sergipe entraria em
falência se não recebesse esse empréstimo? A resposta é trivial: claro
que não. Na verdade, o governo desperdiça todos os meses um Proinvest. É
dinheiro nosso que vai, por exemplo, para uma infinidade de altos e
médios cargos em comissão, distribuídos em 25 secretarias, fora as
autarquias, empresas e fundações.
A sensação é sempre de falta de gestão, de desleixo, de desorganização,
de esquemas nebulosos, politicagem miúda e rasteira, de intensas
relações promíscuas entre poderes, de acordos que sempre têm dois vieses
siameses: o econômico e o político. Dinheiro há e muito, dentro do
próprio Estado, mas falta o interesse público.
Isso não significa que gestões públicas não devem se endividar.
Contrair dívida parece necessário para realizar grandes ações. No
entanto, antes de assumir compromissos de tal monta, que implicará em
pagamentos de juros estratosféricos e a perder de vista, faz-se
necessário fazer o dever de casa. Não é assim em nossa casa?
No quesito de dever de casa o Governo de Sergipe vive ano a ano, sendo
reprovado exatamente por não fazê-lo. Basta responder com sinceridade
como anda – de gestão e de qualidade social – a educação, a saúde, a
segurança, o meio ambiente, etc. Talvez a melhor pergunta seja: os R$
727 milhões do Proinvest vão resolver os gravíssimos problemas sociais
de Sergipe?
Ao que parece, os acordos estão sendo fechados: eleição na Câmara de
Vereadores de Aracaju; conversas animadas entre Marcelo Déda e João
Alves; reunião do governador com deputados; acenos de Déda festejados
pelos Amorim; a vinda da presidenta em Dilma e outras conversas. Tudo
parece caminhar para a “paz”. O silêncio logo se fará presente e Sergipe
permanecerá assim, sem investir em políticas públicas essenciais, sem
investir nas pessoas, na educação, saúde, segurança, meio ambiente.
O Governo do Estado quer o empréstimo de R$ 727 milhões para grandes
obras, mas Sergipe continuará, em muitas áreas, preso a tempos das
capitanias hereditárias, da cultura da Casa Grande, de uma aristocracia
podre e que tudo pode, de uma imprensa oficial e muda, e de uma massa
escravizada e criminalizada que pouco se enxerga assim. Como bem
escreveu em “O povo brasileiro”, Darcy Ribeiro (1995, p. 219): “o Brasil
passa de colônia a nação independente e de Monarquia a República, sem
que a ordem fazendeira seja afetada e sem que o povo perceba. Todas as
nossas instituições políticas constituem superfetações de um poder
efetivo que se mantém intocado: o poderio do patronato fazendeiro”.
Texto de José Cristian Góes, Jornalista profissional, servidor federal INSS, especialista em Gestão Pública (FGV/Esaf) e Gestão de Crise (Gama Filho).
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